Serra do Açor




Perdida no meio dos montes
Da serra do Açor
Existe uma pequena aldeia
Altaneira
Orgulhosa do seu ver…

Cresci no seu colo
Feito de campos verdejantes
E de gente simples
Sempre muito atarefada
Nas lides do campo
Desde a sementeira
Até ao recolher
Tantas voltas que o milho leva…

Levantei-me com as galinhas
Carreguei molhos e molhos
Cestas e mais cestas
De dias atrás de dias…
À noite
Deitava-me com o cansaço
Que me açoitava o corpo franzino…

Lembro-me da minha avó
Mulher magra e risonha
Que me deixou tantas saudades…
Das histórias que me contava na hora da sesta
Sentadas no seu velho telhado de xisto
Abraçadas ao sol do Inverno
Que nos aquecia o corpo e a alma…
Costurava mais um remendo
Nas já tão gastas calças do meu avô
E dos seus lindos olhos
De um azul mar
Saía um brilho de alegria
De cada vez
Que lhe enfiava
Mais uma linha no buraco da agulha…

Eram velhas histórias verdadeiras
De crianças pastoras
E de cordeiros nos dentes dos lobos
De tempos de miséria
Onde as bocas eram muitas
E a malga das batatas era só uma
Por isso não se falava à mesa…
Até de um eclipse
[coisa estranha, um mistério]
Que lhe roubou o sol ao meio dia…

Tenho tantas lembranças
Guardadas nas prateleiras da minha memória
E vividas num outro tempo
No meu berço de casas de pedra
E ruas de penedos lisos
Por onde eu corria sem medo

Pai das Donas
É o nome da minha aldeia
Escondida do mundo
Entre montes e fragas
Que valem a pena!
Uma terra
Bem pertinho da Benfeita
Que guardo com carinho
Num cantinho especial
Dentro do meu sentimento…

Hoje revisito-me nesse tempo
Através dessas lembranças
Que me chegam ao pensamento
Como se fossem ecos…
Ecos de uma infância feliz!

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