A pastorinha morreu, todos estão a chorar. Ninguém a
conhecia e todos estão a chorar.
A pastorinha morreu, morreu de seus amores. Á beira do rio
nasceu uma árvore e os braços da árvore abriram-se em cruz.
As suas mãos compridas já não acenam de além. Morreu a
pastorinha e levou as mãos compridas.
Os seus olhos a rirem já não troçam de ninguém. Morreu a
pastorinha e os seus olhos a rirem.
Morreu a pastorinha, está sem guia o rebanho. E o rebanho
sem guia é o enterro da pastorinha.
Onde estão os seus amores? Há prendas para Lhe dar. Ninguém
sabe se é Ele e há prendas para Lhe dar.
Na outra margem do rio deu á praia uma santa que vinha das
bandas do mar. Vestida de pastora p'ra se não fazer notar. De dia era uma
santa, à noite era o luar.
A pastorinha em vida era uma linda pastorinha; a pastorinha
morta é a Senhora dos Milagres.
Canção de José Sobral de Almada Negreiros
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