Mata da Margaraça

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As Duas Sombras

"Na encruzilhada silenciosa do Destino, quando as estrelas se multiplicaram, duas sombras errantes se encontraram.
A primeira falou:
- Nasci de um beijo de luz, Sou força, vida, alma e esplendor... Trago em mim toda a sede do desejo, toda a ânsia do Universo. Eu sou o Amor! Sou delírio, loucura... E tu, quem és?
A Segunda respondeu:
- Eu nasci de uma lágrima. Sou flama do teu incêndio que devora. Vivo dos olhos tristes de quem ama, para os olhos nevuentos de quem chora. Dizem que vim ao mundo para ser boa,
para dar do meu sangue a quem queira. Sou a Saudade, a tua companheira, que punge que consola e que perdoa...
Na encruzilhada silenciosa do Destino, as duas sombras comovidas se abraçaram.
E, desde então, nunca mais se separaram..."

Mata da Margaraça - Serra do Açor

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Lenda de São Martinho

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Lenda de São Martinho

Martinho nasceu entre o ano de 315 e 317 em Sabaria, no território da actual Hungria. Era filho de um soldado do exército romano e, como era tradição, acabou por seguir a profissão do pai, tendo entrado para o exército com apenas 15 anos de idade.
Apesar de professar a religião dos seus antepassados, adorando os deuses que faziam parte da mitologia romana, o jovem Martinho não era sensível à religião pregada três séculos antes por um homem bom de Nazaré. Um dia aconteceu um facto que o marcou para toda a sua vida:
Numa noite fria e chuvosa de Inverno, às portas de uma localidade de França chamada Amiens, talvez no ano de 338, Martinho ia a cavalo quando viu um homem quase sem roupa no corpo, com um ar miserável, que lhe pediu uma esmola. Como Martinho não levava consigo qualquer moeda, cortou a sua capa ao meio e, num gesto de ternura, entregou metade ao mendigo para que este se pudesse agasalhar.
Reza a lenda que o mendigo seria o próprio Jesus e que, depois de ter recebido metade da capa de São Martinho, a chuva parou imediatamente e os raios de sol começaram a aparecer por entre as nuvens.
A partir desse dia Martinho sentiu-se um homem novo, tendo sido baptizado provavelmente na Páscoa do ano de 339. Como, oficialmente, só podia abandonar o exército com a idade de 40 anos, Martinho optou por se exilar para, desta forma, se afastar da vida militar.
Com o tempo as suas pregações e o seu exemplo de despojamento e simplicidade fizeram dele um homem considerado Santo e muitos homens seguiram-no, optando pela vida monástica.
No ano de 357 Martinho foi dispensado oficialmente do exército e, em 371, aclamado bispo de Tours. Faleceu em Candes no dia 8 de Novembro de 397 e o seu corpo foi acompanhado por mais de dois mil monges e muitos homens e mulheres devotos, tendo chegado à cidade de Tours no dia 11 de Novembro.
O seu culto começou logo após a sua morte e, hoje em dia, um pouco por toda a Europa, os festejos em honra de São Martinho estão relacionados com o cultivo da terra, previsões do ano agrícola, festas e canções desejando abundância e, nos países vinícolas do Sul da Europa, com o vinho novo e a água pé.
O São Martinho é festejado não só em Portugal, mas também na Galiza e nas Astúrias, em Espanha. Antigamente, nos tempos dos nossos avós, eram frequentes os "Magustos". Grandes fogueiras ao ar livre, no campo, reuniam amigos e familiares que cantavam e dançavam enquanto as castanhas estalavam no lume. O vinho novo, jeropiga ou água-pé acompanhavam as castanhas assadas, pois, como diz o ditado popular "no dia de São Martinho vai à adega e prova o vinho". Os vendedores de castanhas assadas são um dos símbolos de São Martinho. É nesta época do ano em que, evocando a lenda do Santo, o tempo sempre melhora, período ao qual o povo chama "Verão de São Martinho".


Barrigueiro - Arganil - Serra do Açor

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A pastorinha morreu, todos estão a chorar. Ninguém a conhecia e todos estão a chorar.

A pastorinha morreu, morreu de seus amores. Á beira do rio nasceu uma árvore e os braços da árvore abriram-se em cruz.

As suas mãos compridas já não acenam de além. Morreu a pastorinha e levou as mãos compridas.

Os seus olhos a rirem já não troçam de ninguém. Morreu a pastorinha e os seus olhos a rirem.

Morreu a pastorinha, está sem guia o rebanho. E o rebanho sem guia é o enterro da pastorinha.

Onde estão os seus amores? Há prendas para Lhe dar. Ninguém sabe se é Ele e há prendas para Lhe dar.

Na outra margem do rio deu á praia uma santa que vinha das bandas do mar. Vestida de pastora p'ra se não fazer notar. De dia era uma santa, à noite era o luar.

A pastorinha em vida era uma linda pastorinha; a pastorinha morta é a Senhora dos Milagres.

Canção de José Sobral de Almada Negreiros

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